VIÑA CHONO, BOAS NOVAS DO COLCHAGUA
Viagem

VIÑA CHONO, BOAS NOVAS DO COLCHAGUA

Deixei Santiago sob uma chuva fina e constante de uma manhã fria e escura de inverno. Sob tais condições, a paisagem se desenrolava monótona durante os 200 km que separam a capital chilena de meu destino, a Vinícola Chono, na Comuna Peralillo, no belíssimo Valle de Colchagua.


O Colchagua é uma das mais representativas regiões vitivinícolas do Chile, com muitas vinícolas de grande porte e muitos pequenos e médios produtores. No idioma nativo Mapuche, Colchagua significa “vale de pequenas lagoas”. É também um dos destinos de enoturismo no Chile de maior prestígio internacional e recebe um grande número de turistas em busca de experiências com os vinhos e a gastronomia. Muitas vinícolas no Colchagua têm excelente infraestrutura turística, com hotéis, restaurantes, degustações e tours variados para todos os gostos e bolsos.


Foi em 2009 que Juan Sutil, empresário agrícola e fundador da Viña Sutil, assumiu o comando do projeto com o propósito de apresentar ao Chile e ao mundo o potencial do país como origem de vinhos de alta qualidade.

Chono é o nome de uma antiga etnia nômade, também chamados de Guaitecos, que habitou principalmente o arquipélago das Ilhas Chiloé, na porção norte da Patagônia chilena. Caçadores e coletores, moviam-se de ilha em ilha com canoas de madeira, as Dalcas. Charles Darwin os descreveu como um povo ancestral e grandes remadores. Tais características inspiraram a criação dos vinhos Chono, com seus viticultores e enólogos que viajam incansavelmente pelo Chile em busca de lugares ideais para criar grandes vinhos.

Após me instalar no exclusivo Hotel Viña La Playa, na sede da Vinícola Chono, que conta com apenas 16 habitações de alto padrão, fiz um tour pela linda propriedade, que além de uvas, produz ameixas e framboesas destinadas a produção de frutos secos para exportação.


A chuva havia parado, mas o céu permanecia cinzento e escuro. Nos vinhedos, as videiras sem folhas já se encontravam em dormência, após o esforço da frutificação. Após a colheita, é tempo da planta descansar e se recuperar para a próxima e crucial etapa, quando a videira acorda e começa o processo da brotação.

A caminhada nos levou às margens do rio Tinguiririca, que cruza a propriedade. Com 167 quilômetros de extensão, tem o fundo recoberto de seixos. De volta à sede, segui para o excelente restaurante do Hotel, o Tinguiririca, onde experimentei a saborosa culinária local, como a enguia, acompanhada de alguns vinhos produzidos na propriedade.


Após o almoço, visitei a belíssima adega e, em seguida, emendamos a degustação de alguns rótulos varietais, como Sauvignon Blanc, Chardonnay, Pinot Noir, Cabernet Sauvignon, Carménère, Syrah e um corte interessante de Carignan e Garnacha. Todos os rótulos demonstraram excelente consistência. Entre os brancos, surpreendeu o Sauvignon Blanc, com caráter frutado mais discreto, boa mineralidade e ótimas notas herbáceas, o oposto da maioria dos vinhos dessa variedade, que não raro pecam pela opulência cansativa de notas de maracujá. Dentre os tintos, muito macios e redondos, surpreendeu o Syrah, com grande tipicidade, quando o vinho expressa as características mais clássicas da uva em questão. Tem aroma de frutas frescas escuras, como ameixa e mirtilo, ótimo corpo, notas de cedro e especiarias. No paladar, acidez exuberante, álcool na medida e ótima persistência. Tudo que se espera de um tinto dessa variedade.


Ao término da degustação, saímos para o terraço defronte a adega e fomos surpreendidos por um belíssimo entardecer, com o céu em fogo. No horizonte surgira uma brecha e a luz quente do poente iluminava as nuvens por baixo, incendiando paisagem. Um momento muito gratificante após um dia inteiro cinzento. À noite, um excelente jantar harmonizado, regado com os vinhos que havíamos degustado, fechou com chave de ouro a visita à Viña Chono.

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