Eu tenho enxaqueca!
Pior que isso. Eu adoro vinho e minha enxaqueca é desencadeada quando bebo vinho!
Na realidade, não é sempre que bebo vinho que tenho enxaqueca, mas é muito frequente. E parece que acontece mais com o vinho tinto do que com o branco; se bem que já tive com brancos também. Ah, e não tem muito a ver com a quantidade. Tem dias que bebo uma garrafa e não acontece nada, tem dias que apenas uma taça é suficiente pra causar aquela enxaqueca de explodir a cabeça!
Essa é a queixa de um paciente meu da semana passada. E é exatamente a mesma coisa que acontece comigo. E, imagino, com muita gente.
Mas, por que existe essa associação de vinho com enxaqueca? Não se sabe bem ao certo, mas existem muitas hipóteses. Uma delas é o fato do vinho conter aminas, compostos orgânicos que podem exercer uma ação tóxica provocando enxaqueca, vômitos, diarreia e taquicardia. A principal é a Tiramina. Outra hipótese está relacionada aos taninos, compostos químicos presentes nas sementes e casca da uva, de sabor amargo e adstringente e que podem também causar dores de cabeça. Isso explicaria o porquê do vinho tinto, que fica muito mais tempo em contato com as cascas durante sua vinificação, ser mais susceptível a desencadear enxaqueca do que o branco, já que possui muito mais taninos que o último. Além dessas duas hipóteses, ainda existe a possibilidade do causador da enxaqueca ser o sulfito, conservante adicionado ao vinho e que pode ser responsável por muitos outros sintomas como asma, queda de pressão, distúrbios intestinais, taquicardia, ondas de calor, fraqueza e ansiedade.
Mas nada disso explica por que algumas vezes a gente tem enxaqueca e outras vezes não. O motivo é que a enxaqueca é uma doença multifatorial, e assim como o vinho, vários outros fatores podem funcionar como gatilho: beber de estômago vazio, noite mal dormida, dia estressante, após atividade física, sol, e até beber no período pré-menstrual para as mulheres. Às vezes temos aquela sensação de “não estou muito bom para beber hoje…”, pois é, é justamente a conjunção de alguns desses fatores que nos faz sentir isso. Se você tem enxaqueca, melhor ficar atento aos sinais!
E tem alguma coisa que podemos fazer para evitar, ou minimizar, essas dores terríveis? Tem sim. Cerca de um terço das pessoas que têm enxaqueca apresentam o que chamamos de aura. Aura são sintomas neurológicos transitórios que precedem a enxaqueca, como enxergar pontos brilhantes, luzes piscantes, pontos cegos na visão e até perda temporária da visão. No meu caso, sinto um peso/formigamento difícil de explicar na região posterior da cabeça e nuca. Pra mim funciona como um aviso. Se nesse momento eu tomo os remédios habituais para enxaqueca, e cada um sabe qual é o melhor pra si, ela geralmente não se instala. Se você é uma dessas pessoas, começou a beber seu vinho e veio esse “aviso”, é hora de tomar seus remédios e dificilmente terá enxaqueca. Mas se você não consegue pressenti-la tem como tentar evitá-la. Primeiro tomar cuidado com aquelas situações de gatilho citadas acima. Em segundo lugar é importante beber a mesma quantidade de água para cada taça de vinho que for ingerir, já que o álcool é diurético e a desidratação também pode ser um dos fatores desencadeantes. E, por fim, se achar que o dia não está dos melhores, mas não quer perder aquele encontro com amigos que, seguramente, será acompanhado de bons vinhos, dê preferência aos tintos mais leve (Pinot Noir, Gamay…) no lugar daqueles vinhos ricos em taninos como Tannat ou Malbec, ou ainda melhor, aproveite os maravilhosos brancos nessas situações. Enxaqueca é uma doença incapacitante que costuma perdurar por até 12 horas, ou mais, e pode estragar um delicioso encontro com amigos, passeios, degustações etc. Se pudermos evitá-la seguramente poderemos continuar com o prazer de beber nossos vinhos com nossos amigos e amores.