Frédéric Pacaut, Les Jamelles
Neste breve série de conversas com produtores que nos visitaram na Prowein 2023, fizemos a cada um deles uma única pergunta. Começamos com o cordial Frédéric Pacaut, produtor dos vinhos Les Jamelles
Há mais de 20 anos atuando no mercado do vinho, Frédéric reuniu vasta experiência em desenvolvimento de negócios, vendas, marketing e gestão de mercados internacionais. Em sua passagem por São Paulo por ocasião da Prowein 2023, fizemos a ele uma única pergunta sobre a sua região de atuação, o Languedoc, no sul da França.
Como é o Languedoc, em sua visão?
“O Languedoc é a maior região produtora do mundo. O que produzimos lá é mais que a soma das produções da Argentina e do Chile. Por muito tempo, a fama do Languedoc de produzir grande volume de vinhos de baixo custo foi uma sombra para o potencial de rótulos de melhor qualidade. Eram do Languedoc os vinhos baratos do dia a dia que sustentavam um consumo de 150 litros per capita na década de 1950. Para a infelicidade dos produtores, o consumo de vinhos na França vem caindo dramaticamente desde então e, hoje, está em 40 litros. Assim como aconteceu em muitas regiões, o Languedoc passou por remoções e conversão de vinhedos. Muitos foram removidos e, importante, outros foram replantados com variedades internacionais, como Cabernet Sauvignon, Merlot, Sauvignon Blanc e Chardonnay, levadas ao Languedoc por produtores de outras regiões. É o nosso caso – nós viemos da Borgonha, outros vieram de Bordeaux, outros de Beaujolais, outros da Austrália e também da Califórnia, todos investindo no Languedoc e, até onde posso dizer, com as variedades internacionais em jogo, ainda estamos por descobrir a verdadeira vocação dessa incrível região. Se você pedir a qualquer brasileiro amante de vinhos para citar nomes de regiões vitivinícolas francesas, eu aposto que ele dirá primeiro Borgonha, Bordeaux, Champagne e, eventualmente, outras regiões ainda, antes de citar o Languedoc.
Acredito também que os melhores vinhos elaborados à partir de uma só variedade (varietais) tem uma missão: mostrar a melhor expressão da uva – Pinot Noir tem de ter gosto de Pinot Noir, Cabernet Sauvignon deve parecer Cabernet Sauvignon. Mas nós acreditamos também que é vital o vinho expressar seu território. É isso que buscamos fazer na Les Jamelles, usando nosso know-how desenvolvido na Borgonha para elaborar os blends, ajustando as mesclas de uvas de diferentes origens do Languedoc. Exemplifico: se vc deseja não somente um bom Chardonnay, mas um Chardonnay perfeito, você precisará de um caráter marcadamente frutado e ótima acidez, e para isso é adequado um terroir quente, se possível próximo ao mar. Mas você também desejará, neste mesmo vinho, frescor e mineralidade, então o terroir mais apropriado será mais frio. E, no Languedoc, existe uma enorme diversidade de territórios e diferentes condições. E é da arte de mesclar vinhos de distintas regiões, unindo qualidades, que surgem os vinhos mais completos e mais surpreendentes e que, frequentemente, apontam o caminho da verdadeira vocação do Languedoc.”